Por que a Agroecologia é a chave para a sustentabilidade?

Por: Leticia Aragão

Muito embora as práticas alternativas de agricultura tenham estado associadas ao termo agroecologia, esta, vai muito além das técnicas utilizadas no manuseio do plantio. De acordo com o Marco Referencial em Agroecologia, realizado pela Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – ainda em 2006, a agroecologia pode ser reconhecida como “agriculturas de base ecológica” ou, simplesmente, “agriculturas ecológicas”, tendo em vista a diversidade existente, a qual somente pode ser entendida, na sua plenitude, quando relacionada diretamente ao conceito de sustentabilidade e justiça social. 

Os saberes agroecológicos são uma constelação de conhecimentos, técnicas, saberes e práticas dispersas que respondem às condições ecológicas, econômicas, técnicas e culturais de cada geografia e de cada população (Leff, 2002).

A agroecologia pode ser considerada como um campo transdisciplinar influenciada pelas ciências sociais, naturais e agrárias, cuja base encontra-se na relação sinérgica entre a evolução do conhecimento científico e o saber popular. 

Segundo o Marco Referencial (Embrapa, 2006), a agroecologia se concretiza apenas quando, simultaneamente, cumpre os seguintes princípios: 

  • Sustentabilidade econômica (potencial de renda e trabalho, acesso ao mercado);
  • Ecológica (manutenção ou melhoria da qualidade dos recursos naturais);
  • Social (inclusão das populações mais pobres e segurança alimentar);
  • Cultural (respeito às culturas tradicionais);
  • Política (movimento organizado para a mudança);
  • Ética (mudança direcionada a valores morais transcendentes).  
Propriedade rural de pequenos agricultores em Afogados da Ingazeira-PE. Foto: Letícia Aragão/Agrega

Muitos estudiosos da área compreendem a complexidade existente no cerne do “fazer agroecologia”. Dentre eles, Caporal e Costabeber (2002), reiteram que, em essência, o enfoque agroecológico corresponde à aplicação de conceitos e princípios da Ecologia, da Agronomia, da Sociologia, da Antropologia, da ciência da Comunicação, da Economia Ecológica e de tantas outras áreas do conhecimento, no redesenho e no manejo de agroecossistemas sustentáveis.

Dessa forma a Agroecologia se constitui numa realidade concreta de construção de um novo conhecimento que parte da interação entre a biodiversidade ecológica e a sociocultural local, dos saberes dos agricultores e dos técnicos envolvidos no processo de desenvolvimento” (Embrapa, 2006).

Segundo Enrique Leff (2002), em artigo publicado no II Seminário de Agroecologia, faz-se  necessário compreender que a agroecologia incorpora o funcionamento ecológico necessário para uma agricultura sustentável, mas, ao mesmo tempo, introjeta princípios de eqüidade na produção, de maneira que suas práticas permitam um acesso igualitário aos meios de vida. Esta prática deve favorecer a autogestão da comunidade produtora respeitando sua cultura e estimulando sua dinâmica social.

 Sistema Integrado de piscicultura e aquaponia em uma das famílias assistidas pelo Agrega. Foto: Letícia Aragão/Agrega

Um aspecto de extrema importância é a participação ativa dos produtores rurais na reconfiguração dessas práticas e a inserção destes enquanto agentes protagonistas do processo de redesenho agroecológico das agriculturas tradicionais.  Caporal e Costabeber (2002) enfatizam que a agroecologia nos faz lembrar de uma agricultura menos agressiva ao meio ambiente, que promove a inclusão social e proporciona melhores condições econômicas para os agricultores.

Através da agricultura participativa, o sociólogo Eduardo Guzmán (2001) compreende que é possível engendrar o desenvolvimento participativo de tecnologias agrícolas como orientação que permita fortalecer a capacidade local de experimentação e inovação dos próprios agricultores, com os recursos naturais específicos de seu agroecossistema. A partir desta lógica ecológica, associada aos aspectos naturais do meio, o conhecimento local é gerado e transmitido entre famílias e gerações, respeitando as particularidades de cada momento e espaço geográfico.

Materiais complementares:

“Agroecologia é Vida!”

https://www.youtube.com/watch?v=8vpcabxKGt0

Realização: Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá 

Acesse as referências completas aqui: 

Embrapa, 2006. Marco Referencial de Agroecologia.

Leff, Enrique. 2002. Agroecologia e saber ambiental.

Caporal e Costabeber. 2002. Agroecologia. Enfoque científico e estratégico.

Guzmán, Eduardo. 2001. Uma estratégia de sustentabilidade a partir da Agroecologia.