Meliponicultura – Atividade prática de campo com índios Xukurus

Com o objetivo de identificar abelhas sem ferrão para criação, preservação e conservação das espécies nativas foi realizada no dia 29 de janeiro na área indígena do Caxo, uma coleta de amostras para identificação científica das diferentes abelhas nativas existentes na região, assim como a instalação de caixas iscas confeccionadas pelos Xukurus.

Na atividade que teve a orientação da agrônoma Simone Miranda foram coletadas nove amostras de espécies de abelhas, com dois indivíduos por amostra. As abelhas foram coletadas em seus ninhos naturais no território indígena do Caxo e as amostras enviadas para identificação científica pelo pesquisador Prof. Eduardo A. B. Almeida, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP).

Foto: Gerson Flávio / AGREGA

As caixas-iscas foram confeccionadas com material reutilizado (garrafas pets), fazendo uso de atrativos de cheiro para abelhas (feitos com propólis, cêra de abelha, plantas medicinais e álcool). As caixas-iscas e os atrativos foram preparados pelos Xukurus. 

As caixa-iscas foram instaladas em cinco pontos estratégicos de grande movimento e diversidade de espécies de abelhas diferentes, com boas chances de captura.

Contextualização: 

As Abelhas Indígenas sem Ferrão (ASFs) são nativas do Brasil e das Américas Tropicais. A criação racional de ASFs garante a manutenção e perpetuação dos biomas locais, uma vez que essas abelhas são os principais agentes polinizadores da vegetação nativa. A eficiência na polinização destas espécies é resultante da (co)evolução ecológica das espécies de plantas e abelhas nativas.

A vegetação nativa da área indígena do Caxo é composta principalmente de espécies da Caatinga, caracterizada pela resistência a períodos de estiagem prolongados (conhecidas como plantas Xerófitas), assim como de abelhas adaptadas às condições climáticas locais, as ASFs.

Essas abelhas estão ameaçadas de extinção principalmente por devastação da vegetação local. No caso do território indígena Xukuru de Ororubá são desmatamentos relativamente recentes, ocorridos antes da demarcação da área indígena (a menos de 20 anos), para criação extensiva de gado na região. A ameaça de extinção destes importantes agentes polinizadores afeta diretamente a preservação e a conservação da mata local remanescente, assim como interfere no sucesso de ações de reflorestamento de áreas degradadas.

Foto: Gerson Flávio / AGREGA

A recuperação e manutenção de cobertura vegetal do solo com mata nativa e com implantação de Sistemas AgroFlorestais são estratégias de convivência com o ambiente semiárido e são de vital importância também para adaptação às mudanças climáticas e resiliência dos agroecossistemas.

A prática de criação de ASFs é originária dos povos indígenas das Américas. Essas abelhas pertencem a um grupo de abelhas sociais, o grupo Meliponini. Por isso, a criação racional de ASF é chamada de Meliponicultura e o local para instalação das colmeias, Meliponário. A demanda para instalação de um Meliponário na área indígena do Caxo surgiu em um contexto de regaste da memória cultural e ecológica do povo Xukuru, e como estratégia ecológica, para através da polinização especializada, garantir o sucesso na implantação dos Sistemas Agroflorestais implantados com o projeto AGREGA. 

(Fonte: Relatório elaborado por Simone Miranda)